O Retiro

O Retiro

(2015 by UGURU/ Universal Music/ Deutsche Grammophon)

É curioso que o novo disco de Rodrigo Leão se chame “O Retiro” e tenha sido criado num dos momentos mais activos da sua carreira. Mas é um dos mistérios da criatividade artística: tentar explicar porquê hoje e não amanhã, porquê assim e não de outra maneira.

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Sobre o álbum

re.ti.ro [ʀəˈtiru] (nome masculino)

  1. Lugar retirado; sítio ermo.
  2. Descanso; paz espiritual.
  3. Afastamento do mundo para recolhimento, oração e meditação; isolamento temporário.

É curioso que o novo disco de Rodrigo Leão se chame “O Retiro” e tenha sido criado num dos momentos mais activos da sua carreira. Mas é um dos mistérios da criatividade artística: tentar explicar porquê hoje e não amanhã, porquê assim e não de outra maneira.

“O Retiro”, a sua estreia no prestigiado selo erudito Deutsche Grammophon, é isso: um disco que, logo aos primeiros acordes, percebemos que só podia vir do talento melódico do fundador dos Madredeus e da Sétima Legião, mas que ao mesmo tempo o lança para outras áreas.

Um projecto orquestral com que Rodrigo Leão sonhava havia muito, com a Orquestra e o Coro Gulbenkian, “O Retiro” é algo de novo na sua carreira. É um disco que reconhecemos como seu, síntese de três décadas de experiência como compositor e instrumentista, mas que as reorganiza e reconfigura de formas novas, surpreendentes.

“O Retiro” alimenta-se das múltiplas aventuras que Rodrigo tem encetado nos últimos anos, desde as bandas-sonoras para filmes como “O Mordomo” e “A Gaiola Dourada” até à ilustração sonora para exposições multimedia, passando pelo álbum electrónico que lançou discretamente em 2014, “A Vida Secreta das Máquinas”, e pelas colaborações com Ólafur Arnólds ou Ludovico Einaudi.

Ao longo dos seus 13 temas, “O Retiro” organiza-se como uma suite orquestral de ambientes e melodias que existem como um todo indissociável, unidas pela inconfundível inspiração melódica de Rodrigo. Reconhecemos imediatamente a sua “identidade” sonora, mas sentimos também que viaja aqui para novos destinos; apenas um dos 13 temas, “Melancolia”, é cantado (por Selma Uamusse). Como uma banda-sonora para um filme que ainda está por fazer, como uma história que ainda está a ser escrita, descoberta enquanto é criada, “O Retiro” coloca Rodrigo na companhia rarefeita de músicos que não fazem distinção entre o popular e o erudito, entre o orquestral e o electrónico, como Nico Mühly, Jóhann Jóhannsson ou Max Richter.

A presença da Orquestra e do Coro Gulbenkian conduzidos pelo maestro Rui Pinheiro, ampliando a depuração do quarteto de cordas e da suave electrónica que são o “formato” tradicional dos registos de Rodrigo, criam um outro cenário para a sua música. Registados na acústica milagrosa do Grande Auditório da Gulbenkian pelas mãos mágicas do engenheiro Thomas Lehmann, os arranjos de Carlos Tony Gomes e Steve Bartek criam uma atmosfera de recato, reconfortante, quase protectora, que traz ao de cima a essência das composições que Rodrigo criou no intervalo das suas múltiplas viagens, entre o bulício de Lisboa e a tranquilidade de Avis.

“O Retiro” é um álbum de calma, contemplação, reflexão, um espaço oferecido a todos aqueles que neles quiserem encontrar descanso e paz do quotidiano. E é também o mais recente passo numa viagem criativa para lá de gavetas e categorias a que a aventura a solo de “Ave Mundi Luminar” deu início em 1993 e que tem levado Rodrigo a dar a volta ao mundo, a muitos mundos.

“O Retiro” é também o arranque de uma outra e nova viagem. Sejam bem-vindos.